domingo, 4 de outubro de 2009

O meu segundo pai

Perfeito homem adulto,
que me acolhera em seu colo,
quando ainda era eu uma criança...
Nascera eu num dia igual a tantos outros,
e quando todos menos esperavam,
aparecera uma menina bebé,
por entre as pernas da minha mãe....
Todos espantados, surpreendidos,
pois suposto era eu ser um rapaz.
Meu avô, de cara séria e sisuda,
desiludido por não ter tido um neto,
dissera à minha mãe que jamais iria gostar de mim...
Pobre criança para além de ser feia como tudo,
careca, encarnada como um tomate e gorda como um texugo,
era excluída da sua própria família...
Mas depressa meu avô se enganara a meu respeito...
ele veio a gostar de mim como sua segunda filha...
Ensinou-me tudo o que me podia ensinar
Contou-me mil e uma histórias...
Mostrou-me o seu ardo trabalho
e o quanto significava isso para si...
Foste meu pai, irmão, avô e melhor amigo...por alguns anos...
Mas se anjos existem mesmo então levaram-te para junto deles...
Deixando-me sozinha num total mundo ainda a mim desconhecido...
E naquele mórbido dia...
Que me levaram à igreja...
Tudo chorava...a minha família chorava...
Ninguém me dizia o que se estava a passar...
Quando ninguém olhava,
escapei por entre uma multidão de gente lacrimosa,
cheguei-me à frente...
Qual não foi o meu espanto de ver,
o homem que tanto admirava,
dentro de uma enorme caixa...
Tentara eu acordá-lo daquele penumbroso sono
Pálido e frio era frio o rosto daquele que eu contemplava...
Berrei o máximo que os meus pulmões
e cordas vocais mo permitiram
A partir daquele pequeno momento tudo
o que era...morrera ali...
Enclausurei-me no meu quarto,
gozada pelo mundo...criticada por todos...
Trauma esse que me perseguiu muito tempo...
Cresci com ele e agradeço muito à alma do meu avô, que foi um grande homem

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