sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Sozinha

Ali está ela...a rapariga invisível. Caminha suave e lentamente no meio da multidão...empurram-na?! Não!!! Nem sequer sentem a sua insignificante presença...em vez disso passam através dela, como se nada ali estivesse...A rapariga olha para cima devagar, dirige o seu olhar para o céu, vê as formas das nuvens que se desenham numa imensa tela azul-celeste...aponta o dedo para o céu e contorna as nuvens...Sorri...Olha para a frente e continua a andar...
Percorrer a estrada apinhada de pessoas, cada uma com os seus pensamentos...Pensamentos de dinheiro, inveja, peso, roupas, maquilhagem, operações plásticas, comida, ambição, poder, sexo, amizade, carros, motas, música, medicina, ganza, heroína...tudo...
Contudo a rapariga não lhes deu qualquer importância...e continuou o seu caminho...De repente, parou! Olhou ao longe, e vislumbrou aquele cujo o nome não lhe sai da cabeça...aquele que ocupa a sua mente e o seu coração 24horas por dia... Passou por si, uma delicada brisa, continha o seu perfume, um odor fresco, suave, calmante, tentador...respirou-o bem fundo....fechou os olhos por momentos...Abriu-os de novo e caminhou na sua direcção. Cada passo que dava confiante e seguro, mas quanto mais se aproximava, mais nervosa ficava e mais inseguros eram os seus passos.... O seu coração palpitava cada vez mais forte e depressa. Queria que tudo a sua volta parasse...esperou...olhou à sua volta e tudo estava na mesma, de um lado para o outro as pessoas andavam...apressadas...nada tinha parado... Inspirou fundo e seguiu com coragem...Chegou-se ao pé dele e cumprimentou-o como normalmente...ele olhou-a bem fixamente nos seus olhos. Ela corou... (ela já não estava invisível). Conversaram um pouco...porque ela tornara-se muda com a sua presença e ele intimidado com a falta de palavras que ela dizia...Ela queria falar...queria dizer-lhe o que sentia,mas parecia que não tinha voz...
Nisto ele beijou-a...ela correspondeu ao beijo...e beijou-o também...trocaram olhares de cumplicidade e um par de sorrisos amigáveis..."Adoro-te tanto" disse ele...e ela respondeu " Também te adoro muito"...
O silêncio reinou entre eles os dois uma vez mais...Por vezes um ou outro fazia conversa mas não durava quase nada... Passado um bocado ele deixou-a ali, sozinha, e foi-se embora...despedindo-se com dois beijos na face...ela de súbito ficou triste e desolada e sentiu-se estúpida por não conseguir ser solta ao pé dele...
Levantou-se e percorreu de novo as ruas da cidade, pensativa, antes de chegar a casa...olhou para o seu telemóvel e nada de mensagens...Escreveu e deitou-se...
Passado uns dias, nada de mensagens do tal sujeito...Continuou em baixo. Foi à rua e deixando todos passarem através dela, sentindo cada um a passar por ela como se fossem espadas a trespassarem o seu corpo... Vê o seu adorado no mesmo local que tinha visto da última vez...esperançada, anda cada vez mais depressa e ansiosa...mas quando está mesmo a aproximar-se dele, junta-se-lhe uma rapariga a seu lado...ela fica petrificada a olhar para aquilo...Parecem íntimos e divertidos, mais do simples bons amigos...
Furiosa, ela corre, corre....esquece-se que já não está mais invisível e choca com todas as pessoas, empurra-as...elas param a velocidade a que ando...(as baratas tontas que tão depressa andavam, naquele momento pararam e olharam) ela corre sem parar...veloz como um raio...Para diante de uma ponte de estacas de madeira, uma das suas fobias...Inspira e acredita, disse para si mesma,fechou os olhos e andou calmamente e confiante de si mesma sobre a ponte... Quem diria que tinha enfrentado os eu medo assim sem mais nem menos, só por estar irritada...
A meio da ponte o seu corpo explodiu, transformando-se por sua vez num bando de borboletas de todas as cores e feitios a voarem e a dispersarem-se... Cada uma indo para uma terra, país, continente, mundo diferente....
Não, nada disso aconteceu, por muito que ela o desejasse... Chorou, cada lágrima que caía, era uma parte sua que desaparecia, ali no nada...
Olhou para o seu reflexo na água do rio, desejou outra vida, desesperada e perdida do seu corpo, abriu uma das suas mãos, deixando cair a fotografia de um homem que tanto adorava....sobre a tal fotografia poisara agora uma borboleta, branca cor de pérola...A rapariga afastou-se e deixou a ponte sozinha...seguiu o seu caminho, vagueando sem rumo ou destino...

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