quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A menina vista a olho nú (História de uma criança "levada da breca")





Era uma vez; ( aqui vamos nós...) uma menina que por muito que tentasse misturar-se na mini-multidão voraz que a rodeava, não conseguia. 

Não conseguia por diversas razões: - Era para já diferentemente destacada pelas roupas fora do vulgar desde que se lembra; 

-O seu cabelo era ora cacheado com uma "palmeira" bem espetada no cimo da cabeça, ou então um penteado muito na moda em forma de tigela...(bem o que ela odiava esse penteado horroroso que a fazia lembrar um rapazinho)

-O seu feitio e personalidade eram bastante peculiares, reguila e traquinas, uma "Maria-rapaz" muito vaidosa, mas não seria isso tudo fogo de vista? 
Hum, talvez, sempre que via um papelinho que fosse, ela apanhava-o e deitava-o no lixo, quando de repente apareciam umas "hienas" trocistas que deitavam lixo ao chão e ela ia apanhando logo de seguida. Querendo eu dizer com isto, era uma miúda com a parvalheira típica da idade, por vezes excessiva com as suas consequências é certo, mas contudo conseguia ser um anjo caso o quisesse.

- Era naturalmente interessada por um cento de coisas e mais ainda, via desenhos animados em diversas línguas e percebia tudo através do que os seus olhos viam, treinando o seu ouvido, via até animações mudas apenas com sons e música, de trás para a frente, frente para trás nas antigas VHS. Desde cedo ganhou um gosto especial por filmes antigos e recentes da época e principalmente pela diversidade de músicas que a sua mana mais velha lhe dava a conhecer com grande entusiasmo...

(Resumindo-me a apenas a estas razões e não às restantes, devo acrescentar: bons velhos tempos).

Claro que como tudo na vida, nem tudo se resume às boas memórias, no entanto essas devemos guardá-las no coração e as más aprendemos com elas e mais tarde dão boas gargalhadas. Continuando, como miúda traquinas que era, mesmo quando tentava não meter-se em confusões e problemas, eles vinham de encontrão a ela.("Karma", não é ?!)

Durante anos era aquela menina posta sempre de lado pelos ditos populares, apontavam-lhe o dedo e riam-se devido a tudo o que a ela se resumia...Mas boquiabertos muitos ficavam quando certas coisas lhe saiam pela boca fora naturalmente, sem grande esforço, tudo devido à sua curiosidade...Mas do que tinha de curiosidade, tinha ela de teimosia e preguiça ao ponto de inventar a uma dada altura os seus próprios trabalhos de casa porque não lhe apetecia fazer o que a professora lhe mandava, mas também não lhe apetecia ouvir a mãe ou pior, o pai. (Está-se a ver o resultado, não?!)

Era a típica menina que mexia nas coisas da mãe e da mana que tanto admirava e ponha-se peneirenta juntamente com a sua cúmplice, a sua prima. Desde um batom mal posto, uma pincelada de sombra aqui e acolá, com um monte de colares e uma peruca, ah sem esquecer a indumentária que lhe ficava a nadar e os sapatos que na altura eram gigantes. Podem bem imaginar o cenário...

Mas como todos os ditos "anjinhos" de 1 metro de altura, possuía também as diversas facetas infantis...E após o episódio que anteriormente referi, seguido de um bom par de palmadas e um "ralhete", estilo de "sermão de Santo António aos peixes" também esta se empoleirava nos telhados, estantes, muros, armários, portas, varandas...ufa um sem fim de coisas. 

Descias as ruas de uma bicicleta já com duas rodas, porque as laterais já tinham caído, com pneus vazios, a alta velocidade atropelando quase os "velhotes" seus vizinhos, que resmungavam "raios e coriscos". 
Adorava chatear os seus gatos e cão, quase a torturá-los; e se por ventura estivesse num café, com a sua mãe, mal as senhoras desconhecidas virassem a cara, lá ia a "pestezinha" bisbilhotar as carteiras das "madames".

Alguns dos diversos passatempos desta "endiabrada", para além de arreliar a sua família e responder aos pontapés quando se sentia ameaçada, ou cantar e dançar como um "duende alegremente tocado", era comer...

Sim, não era novidade nenhuma que adorava comer, "rechonchudinha"  como ela era, que até fez passar vergonhas à sua mãe,para variar, mesmo em pleno centro histórico da cidade, afirmando bem alto desesperada que a sua mãe não lhe dava comida nenhuma. 

A mãe cansada diz: " Se tens fome, vamos àquele café e comes uma sopinha"; ao que a garota responde: "Eu não tenho fome de sopas, tenho fome de chocolates". Uma senhora que ia a passar ouvindo a miúda a queixar-se com fome, olha incrédula para a "piolhita" e vira-se e diz sarcasticamente: "Sim, uma menina como tu, nota-se mesmo que passa fome". A menina que até então estava no auge do seu papelão fica vermelha que nem um tomate quase a deitar fumo pelas narinas, como se atrevia aquela mulher a dizer-lhe aquilo, pensava ela.






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